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[ O QUE INVIABILIZA A NEGOCIAÇÃO DE REFÉNS ENTRE ISRAEL E HAMAS ? ]

  • Foto do escritor: Fábio Castelo
    Fábio Castelo
  • 28 de mar. de 2024
  • 4 min de leitura

⚠️ Disclaimer: a problemática do Oriente Médio é multifatorial e complexa, envolvendo questões étnicas, de nacionalidade, religiosa, etc.

Some-se a isso o mar de fake news, muitas delas avalizadas pelas grandes mídias internacionais e nacionais, que nos impedem de ratificar quaisquer das hipóteses abaixo construídas.


➡️ E é justamente neste cenário caótico, exposto no disclaimer, que um negociador/gestor de crises opera: a primeira lição a ser aprendida é...

INEXISTEM CERTEZAS SOBRE QUAISQUER HIPÓTESES


➡️ Por isso, todo interventor de crises precisa CONSTRUIR E CAMINHAR SOBRE A SUA PRÓPRIA ESTRADA DE PROBABILIDADES. É nessa ampla RODOVIA, cheia de desvios e destinos, que aplicamos o processo da REDUÇÃO DE INCERTEZAS, tentando transformá-la em uma AVENIDA, ou RUA, ou uma PEQUENA ESTRADA. Em alguns momentos, podemos pegar saídas erradas.

E como se reduz as incertezas?


  • Coletando mais informações sobre o evento: quanto mais informações são conhecidas sobre um evento, menor a incerteza sobre o que pode ocorrer.


  • Validando cada nova informação: imagine um grande quebra-cabeças. As peças que já estão no tabuleiro são as hipóteses que já validamos. As peças soltas são as novas informações que obtemos. Porém, nem todas essas peças soltas pertencem a esse quebra-cabeças. Então, um gestor de crises precisa receber a informação, avaliar se ela pertence ou não a esse quebra-cabeças e ver se ela se encaixa junto com as demais peças já colocadas.


  • Conter e isolar: se uma crise pode ser influenciada ou agravada por vários fatores, reduzir a quantidade de fatores que podem interferir nesse evento impede o agravamento da crise e torna mais fácil a construção do quebra-cabeças e a validação de novas hipóteses.


  • Reconhecer a existência de eventual Viés da Confirmação: sabe aquele momento em que você já montou bastante peças do quebra-cabeças e daí vem uma peça totalmente inovadora, na qual você tem a absoluta certeza de que ela é correta e adequada, mas não se encaixa em nenhum outro lugar? Nesse momento surge o viés da confirmação. Começamos a reunir argumentos para justificar que tudo o que já foi montado no quebra-cabeças está correto e a nova peça é a equivocada. E muito disso se dá pelo modo econômico de energia que nosso cérebro opera: reconhecer um erro equivale a gasto de energia para reconstruir novas hipóteses.


DO PROCESSO NEGOCIAL:


O processo negocial percorre as fases sequenciais do POR QUÊ, COMO e O QUÊ.


➡️ Do Por quê: antes de iniciar a negociação, é preciso identificar quais são os propósitos do ato de sequestro. Isso porque nem sempre os interesses declarados se equivalem aos propósitos. Por exemplo, o Hamas pode dizer que seu interesse no sequestro é reconquistar territórios ou alegar causas religiosas, enquanto o verdadeiro propósito pode ser impedir que Israel assine acordos de paz com os demais países da região ou até mesmo realizar troca de reféns.


➡️ Além do processo acima explicado - redução das incertezas - vamos utilizar uma ferramenta psicológica chamada Dissonância Cognitiva. Simplificando, a dissonância é a distância entre o que se fala e o que se faz. E essa distância tende a reduzir com o tempo: ou ajustamos nossa fala ao comportamento ou ajustamos nosso comportamento à nossa fala.


Como os comportamentos são mais difíceis de serem ajustados às falas, de regra, as pessoas buscam novos discursos para justificar seus comportamentos. Por experiência pessoal, quando percebo a dissonância, foco duas vezes mais nos comportamentos do que na fala para avaliar as hipóteses apresentadas, algumas vezes até desconsiderando o conteúdo verbal.


➡️ Agora vamos colocar tudo em prática, tentando analisar a negociação de reféns entre Israel e Hamas. Quais são os propósitos do sequestro?


Hipótese 1: O Hamas atacou Israel em um movimento coordenado com outras nações como Rússia, China e Irã, com o propósito geopolítico de fortalecer os países aliados da Rússia e retaliar indiretamente os EUA por intromissões no Oriente, limitando seu poderio de participar em diversas guerras simultâneas.

Validação da hipótese: possível, já que há alguns dias a China emitiu posicionamento favorável à Rússia. Porém, a Rússia não se pronunciou. Consequência: se esse porquê for válido, há grande probabilidade de que o sequestro perdure por longo prazo, com negociações políticas para libertação de reféns. Assim, Israel deve implementar o PLANO B e, utilizando seus serviços de inteligência, localizar o cativeiro, libertar os reféns e deter os terroristas envolvidos na ação.


Hipótese 2: Além de impedir um eventual processo de pacificação de Israel com países do Oriente Médio, o terrorismo com sequestro serve como único propósito de formar um "escudo humano" e impedir retaliações de Israel, incluindo ameaças de morte aos reféns.

Validação da hipótese: talvez seja o cenário que se desenha. Além disso, houve a libertação exclusiva de reféns americanos sob a alegação do Hamas de questões humanitárias. Nesse tópico, observamos claramente a dissonância cognitiva: o grupo terrorista não demonstrou quaisquer preocupações humanitárias ao matar e sequestrar civis. Assim, desconsiderando o discurso retórico e analisando o comportamento, faz mais sentido para o Hamas libertar os reféns americanos e, assim, desescalando a crise com os EUA, evitando o ingresso desse player e de seu poderio militar no resgate de seus nacionais. Nesse caso, há grande probabilidade de não existir interesse em libertar reféns, sendo necessário para Israel implementar seu PLANO B.


Hipótese 3: Executar a Jihad Islâmica para destruição do Estado de Israel.

Validação da hipótese: pouco provável. Isso porque, para concluir essa pretensão, o poder bélico deveria ao menos ser equivalente, o que é incompatível com a constante falha de mísseis de seu arsenal. Aqui, novamente aplicamos o princípio da Dissonância Cognitiva. Por essa hipótese há um iminente interesse em matar todos os reféns judeus, o que torna o plano B imperativo.


Hipótese 4: Troca de reféns sequestrados por outros membros do Hamas detidos em Israel.

Validação da hipótese: possível, porém seria possível alcançar o mesmo objetivo sem a prática do ato terrorista em si, que claramente remeteria a uma retaliação de Israel. Talvez seja um interesse adjacente. A questão é que não há pronunciamento do Hamas sobre as condições para a libertação dos reféns. Assim, novamente se faz necessário a implementação do Plano B.


➡️ Perceba que, sem determinar o porquê da ação, um interventor de crises precisa elaborar e validar hipóteses e trabalhar sobre elas, sem deixar de aprimorar e executar seu plano B, pois o fator tempo corre contra ele, ainda mais quando se trata de salvar vidas.

 
 
 

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